Arquivos Archives

Pesquisar neste blogue

CALIBRAR O MONITOR

CALIBRAR O MONITOR
Tente distinguir todas as zonas de transição correspondentes às letras de A a Z

domingo, outubro 28

Apenas luz

Quem leva esta coisa de carregar em botões de máquinas fotográficas um pouco mais a sério, poderá dizer que estas imagens não passam de lixo reciclado. Com razão. E acrescento: estas e outras mais que aqui tenho deixado!
O que me interessa nas imagens não é tanto o que elas possam ou não mostrar, mas a capacidade única que algumas delas têm de fazer surgir novas imagens nas nossas mentes. A essas imagens que me surgem, chamo imagens imaginadas.
Com elas construo o meu mundo. Com essa construção, faço novas imagens. É como quem sobe uma escadaria de ideias. Nesse processo há sempre estórias que se contam (ou não)... Há sentimentos que se mostram, ou se escondem... mistérios que se revelam ou se adensam...
Tudo isso são apenas meios que me conduzem a um fim que eu próprio ainda desconheço. São os meus processos de descoberta.
Nesse contexto, esta imagem não passa de uma projecção. Uma luz... apenas luz. Quente. Confortável. É esse o seu valor.

sexta-feira, outubro 26

A dúvida existe?


ASSIM rasgo o meu casaco
PENDURADO
NA estupida PRATELEIRA
apenas porque existe e não sabe disso!

COMO PODE ALGUÉM
destruir uma existência?
A existência apenas pode
TRANSFIGURAR-SE
noutra e noutra AINDA, SEM cessar.
Até ao infinito! Ou mesmo até depois...
ou antes...
quem pode SABER SE há infinito?

A existência não tem início nem fim.
logo, não EXISTE!

IN - DIFFERENCE

Dedicado a todos os sem-abrigo

sexta-feira, outubro 19

Palavras mal - ditas


AS PALAVRAS do meu ser não VIVEM neste mundo.

NÃO inventaram as palavras que DIZEM o que quero dizer!

Seja ISSO o que for...

Química


Esta ilustração fala-nos do Homem, da manipulação da natureza e da sua substituição por um mundo virtual. No final, o Homem desaparece da imagem como se de um canal de televisão sem sinal, se tratasse.

quarta-feira, outubro 17

Auto-Retrato (instalação)

Estas images representam uma instalação que fiz para uma exposição no Centro de Cultura Contemporânea, em Torres Vedras, intitulada COM SUMO OBRIGATÓRIO.
O título completo da instalação, era auto-retrato (fotografia ainda por realizar) mas neste momento, as palavras ainda por realizar estão a mais. Ou talvez não...
Com esta instalação pretendi levantar algumas questões que me preocupam em relação à fotografia, à forma como ela se define e enquadra. Não só na arte mas também na vida. A primeira questão: onde começa uma fotografia? No momento do click? Ou começa no assunto, seja ele uma paisagem, um retrato ou uma composição propositadamente montada para ser fotografada? Se quanto aos primeiros exemplos, não será muito difícil estabelecer as fronteiras (embora sempre algo difusas), quanto ao ultimo dos exemplos, essa fronteira esfuma-se ainda mais: para Philippe Dubois* "com a fotografia, já não é possivel pensar a imagem fora da sua constituição, fora do acto que a faz ser como tal, entendendo-se (...) que esta 'génese' tanto pode ser um acto de produção propriamente dito (tirar a fotografia) como um acto de recepção ou difusão (...)". Vemos nesta frase, um claro esfumar das referidas fronteiras, uma vez que se considera com génese da fotografia, (aqui entendida como sinónimo de imagem) todas as intervenções que nela acontecem ou que permitem que seja difundida e recebida por quem a observa. Daí a perinência da minha questão: e antes do click? Toda a preparação, o estudo do angulo, a composição, a espera do momento? Não fará tudo isso também parte da fotografia?
A segunda questão: o que deve representar uma fotografia? O objecto fotografado e nada mais? Ou pelo contrário, de nada importa o objecto fotografado e o que tem valor é somente o significado ou o efeito que se pretende obter, mesmo que esse mesmo significado não tenha qualquer relação directa com o objecto fotografado? (Lembremo-nos que o título é auto-retrato...). E se assim é, então porque se fotografa? Parece um contra senso, pois se não é para mostrar o objecto fotografado...

Estas questões, para mim, estão ainda sem resposta, mas é ao colocá-las, que vou buscar motivação para muitos dos meus trabalhos de origem fotográfica. Neste caso em particular, houve ainda uma intenção de, não provocar, mas jogar, interagir com o espectador. Enquanto que, ao mesmo tempo, abordava de forma subtil o tema da exposição, que tinha a haver com uma crítica à sociedade de consumo, ou seja, a todos nós em geral e a cada um enquanto indivíduo. Assim, coloquei um espelho no cenário, de tal forma direccionado, que o observador que se colocasse em frente da câmara fotográfica, não se veria nele reflectido. Em vez disso, leria a frase “és o que consomes” (reflectida a partir da parede existente atrás) e onde se destacavam algumas letras, de forma a compor uma segunda observação dentro da primeira: “o que some”. (Mais ou menos desta forma: és O QUE conSOMEs). No visor da máquina fotográfica, (uma Mamya 6x6 de enquadrar por cima) coloquei um espelho de forma tal que, quem por ela espreitasse, ver-se-ia a si mesmo, em vez do cenário para onde apontava a lente. Assim, o auto-retrato não seria necessariamente o meu auto retrato, mas o de quem interagisse com o espaço.

Mas aqui há também outra das minhas preocupações: fotografamos, não para conhecer o mundo à nossa volta, mas para nos reconhecermos a nós próprios. Assim como em todas as nossas acções, não vemos o mundo como ele é, vemo-nos a nós, nele reflectidos...

Por fim, a cadeira: a cadeira tem aquele simbolismo universal, que nos transporta logo à ideia de descanso, ou de certa forma e por analogia, à de paz interior. Essa ideia foi reforçada pela cor branca com que a pintei. Mas há um contra senso... a cadeira não tem forro no tampo, nas costas, ninguém pode sentar-se nela sem o risco de cair, de se magoar. Ninguém pode descansar! É também assim a vida. A ideia de descanso, para muitos não passa de uma ideia, ou, se quisermos, de uma ilusão..
---------------------------------------------------------------

* IN: O ACTO FOTOGRÁFICO
Colecção Comunicação & Linguagens, Veja

Mão

A relação entre a imagem, a palavra nela inscrita e o título, resulta num jogo de palavras entre as palavras mão e não. Mas esta ilustração fala-nos também da esperança e da sua negação.

Não

A mão tapa os genitais. Tal como na ilustração publicada acima, a relação entre o título e a imagem, resulta num jogo de palavras entre mão e não. Mas desta vez faz-se referência à vergonha, à forma como a nudez e o sexo são ainda censurados pela sociedade.

domingo, outubro 14

O meu cão

No mundo das imagens há de tudo para todos os gostos. Há imagens que, pela sua força, beleza, oportunidade, ou seja o que for, estão desde logo condenadas à fama. Algumas delas (ou muitas, no caso do foto jornalismo) não têm sequer qualquer outro valor que o da oportunidade. Outras, mais caseiras, não têm qualquer outra função que a de recordar (pobremente) uma qualquer situação familiar ou curiosa. É o caso desta. Mas apesar disso, gosto dela. Ao ponto de me ter dado ao trabalho de a embelezar com um pouco de Photoshop (neste caso foi mais estragar para que parecesse antiga...).
Mas o facto é que, não sendo eu caçador, esta imagem me traz à memória um dos momentos de maior adrenalina que já experimentei perante um animal selvagem, desde os meus tempos de infância, quando vivi em Angola. Na fotografia não se nota, mas o veado retratado era pouco sociável. Vivia meio em liberdade, meio em cativeiro numa Quinta que estava a fotografar a propósito de um trabalho documental sobre património. Quando dei com ele, não resisti: eu tinha de fotografar aquele veado! Então, depois de algumas peripécias em que o dito bicho conseguiu furtar-se ao retrato, apanhei-o encurralado. Seria fácil, ele não tinha por onde sair... a não ser que passasse por cima de mim! Pois...
Com a maior das calmas possíveis medi a luz, ajeitei o tripé com a máquina, uma Mamya 6x6, tão boa para retratos como lenta para situações complicadas... e, como tinha cabo disparador, cheguei-me suavemente para a aduela da porta, enquanto esperava pelos dois minutos que durou a exposição. Tudo correu bem. Tão bem que, entusiasmado, ganhei coragem para um novo retrato. Dar-lhe-ia um outro tempo de exposição para tentar compensar melhor alguma quebra de reciprocidade e o contra-luz...
Um pequeno movimento mais brusco. Bastou isso, um pequeno movimento um pouco mais rápido que a câmara-lenta em que, até àquele momento, tinha actuado, e o veado levanta-se. Claro que, numa fracção de segundo incronometrável, eu já estava (com a máquina e tripé na mão) numa outra secção da casa encostado a uma parede e com as pernas a tremer que nem varas verdes! É por isso, que gosto tanto desta fotografia.

Há fotografias assim. Podem não ser grande coisa, mas transportam-nos a memórias inesquecíveis. A fotografia também é isso. Ou como diria um reclame da kodak, para mais tarde recordar.

Lisbon Story


O título é obviamente copiado do filme do Wim Wenders. E não me apetece dizer mais nada sobre estas fotografias.

domingo, outubro 7

Extra-Terrestre


Homenagem a um amigo falecido.
Esta foto foi tirada por brincadeira com a minha MUSTECK, de baixo para cima, enquanto conversava com ele. Costumávamos dizer que ele parecia um extra-terrestre... Agora é mesmo um extra-terrestre.
Mas onde quer que esteja, só está à nossa espera, e a mim, esta fotografia faz com que não me esqueça disso.
Da brincadeira, não sei se ele gostava. Pelo menos, nunca me pediu uma cópia da fotografia... Mas ele era assim. Nunca se mostrava antagonizado com ninguém. Nem com a vida. Aceitou sempre a doença, mas sem nunca se render a ela! Queria viver! E se há alguém que merecia viver, era ele.
E viveu! Só que, depressa demais...

sábado, outubro 6

HAYKU


Belo sol poente.

Ah! pudesse eu ir buscar-te

Lá, ao fim do mar!


Poema: kazuo Dan (1912-1970)
Poeta japonês que viveu dois anos em Santa Cruz (Torres Vedras)
Estas imagens foram obtidas com a minha moribunda MUSTEK, enquanto conduzia a caminho de Santa Cruz. Nessa altura eu ainda não tinha conhecimento da existência do poeta, nem da sua vivência naquela outrora vila piscatória, onde compôs o citado poema.
Os tempos passam, as memórias cruzam-se...
---------------------------------------------------

quinta-feira, outubro 4


DESTRUO palavras, na esperança de construir O SONHO.

Fecho-me na gaiola QUE CONSTRUÍ para me libertar.

Exponho a imagem QUANDO escondo o ser.

Onde ESTOU eu? AQUI, ou em lado nenhum?

TALVEZ um dia encontre AQUELE QUE VIVE entre o mar e o deserto, qual deles o MAIS poderoso.
Talvez um dia, do ventre ESTÉRIL nasça um filho. O filho!
Talvez que a minha busca NÃO SEJA em vão, porque A HARMONIA que procuro, é aquela de que fujo.

Os músicos


Lembro-me perfeitamente daquele dia. Estava sol, uma melodia ao cimo da rua, não se sabe bem porquê... e que importa? A melodia acontece quando tem de acontecer!
Trazia comigo a minha Musteck, a câmara digital de que mais gosto para situações discretas, a seguir ao telemóvel ultima geração que ainda não comprei nem quero comprar.
Já tenho saudades daquela maquineta, que agora vive estripada numa gaveta qualquer cá de casa... Foram três disparos certeiros! Sem ver, sem ser visto. Com a máquina escondida na palma da mão, apenas a objectiva espreitava por entre os dedos.
É a
chamada fotografia instintiva...
Dá muito jeito em situações complicadas, embora não fosse própriamente o caso...
Mas também pode ser um excelente exercício, uma forma de libertação. Muita da arte contemporânea vive dessa atitude descomprometida, desse gestualismo libertador, porque revelador do mais profundo do ser...
Das três fotografias fiz um quadro. Como se de uma única fotografia em três fotogramas se tratasse... As fotografias não devem viver sozinhas... Tornam-se independentes da vida, e isso não é bom.

Eu consumo... tu consomes... nós con-sumimos!




terça-feira, outubro 2

Estrelas Pretas

...Reza uma antiga história cigana que, quando as estrelas que brilham no céu caem em terra se transformam em estrelas pretas e estas, por sua vez, dão origem aos ciganos...
Foi em busca do brilho dessas estrelas, presente nas suas músicas e demais formas de arte que um grupo de ciganos e paílhos (não ciganos) se juntou durante dez dias (3 a 13 de Julho) em torno do grupo de artistas da associação MIRET (Iniciativa Internacional para o Desenvolvimento da Criação Artística de Minorias Étnicas) sediada na republica Checa.
Peter Butko, Oto Bunda e Mário Bobek, trouxeram até nós as tradições ciganas da Europa Central e trabalharam-nas, adaptando-as ao grupo de jovens e menos jovens que se interessaram em desenvolver este projecto.
O resultado final foi presente ao público no anfiteatro do Parque Verde da Várzea (em Torres Vedras) e resultou num espectáculo de música, canto, dança... e muita emoção.

Texto: Ana Cláudio