Mas o facto é que, não sendo eu caçador, esta imagem me traz à memória um dos momentos de maior adrenalina que já experimentei perante um animal selvagem, desde os meus tempos de infância, quando vivi em Angola. Na fotografia não se nota, mas o veado retratado era pouco sociável. Vivia meio em liberdade, meio em cativeiro numa Quinta que estava a fotografar a propósito de um trabalho documental sobre património. Quando dei com ele, não resisti: eu tinha de fotografar aquele veado! Então, depois de algumas peripécias em que o dito bicho conseguiu furtar-se ao retrato, apanhei-o encurralado. Seria fácil, ele não tinha por onde sair... a não ser que passasse por cima de mim! Pois...
Com a maior das calmas possíveis medi a luz, ajeitei o tripé com a máquina, uma Mamya 6x6, tão boa para retratos como lenta para situações complicadas... e, como tinha cabo disparador, cheguei-me suavemente para a aduela da porta, enquanto esperava pelos dois minutos que durou a exposição. Tudo correu bem. Tão bem que, entusiasmado, ganhei coragem para um novo retrato. Dar-lhe-ia um outro tempo de exposição para tentar compensar melhor alguma quebra de reciprocidade e o contra-luz...
Um pequeno movimento mais brusco. Bastou isso, um pequeno movimento um pouco mais rápido que a câmara-lenta em que, até àquele momento, tinha actuado, e o veado levanta-se. Claro que, numa fracção de segundo incronometrável, eu já estava (com a máquina e tripé na mão) numa outra secção da casa encostado a uma parede e com as pernas a tremer que nem varas verdes! É por isso, que gosto tanto desta fotografia.
Há fotografias assim. Podem não ser grande coisa, mas transportam-nos a memórias inesquecíveis. A fotografia também é isso. Ou como diria um reclame da kodak, para mais tarde recordar.
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