Uma criança que passa ao colo do seu pai ou mãe (não interessa para o caso) deixa cair a chupeta.
Seguidamente, alguém que passa, vê a chupeta no chão. Deduz facilmente que esta pertencerá a um qualquer bebé que a tenha deixado cair e, como bom cidadão, resolve pendurá-la pela corrente, na grade metálica que se encontra logo ali.
Segue o seu caminho, totalmente esquecido da acção que acabara de ter, enquanto a chupeta, qual objecto inanimado, não pode ter consciência do seu significado quando pendurada naquelas grades. As grades são de um cemitério. Podiam ser de qualquer outro sítio, podiam até ser de uma vivenda, de um solar. Mas não, são de um cemitério. Além disso, está nevoeiro. Há ainda uma estrada e uma passadeira que a atravessa. O cenário está montado...
Tão igualmente por acaso como tudo o resto, aparece um fotógrafo acompanhado do seu irmão.
A mente do fotógrafo, funciona por símbolos. Os objectos, as pessoas, os edifícios, para ele não são objectos pessoas e edifícios. São símbolos, ou linhas geométricas.(...) O fotógrafo não vê a realidade como o comum dos mortais. Vê antes, uma outra realidade. (...) Para que a mente imaginativa do fotógrafo, a chupeta não é a chupeta, é o início da vida... O cemitério não é o cemitério, é a morte... O nevoeiro não é o nevoeiro, é o mistério... Finalmente a passadeira que atravessa a estrada, não é uma passadeira, é a caminhada... Até o irmão que espera impacientemente (porque não é fotógrafo?) mais à frente à beira do passeio, não é apenas o irmão, é a representação do ser humano numa determinada fase da vida.
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